QUEBRE TODOS OS PRATOS

Por Gutemberg B. de Macedo

“Os grandes administradores não estão à procura de colaboradores submissos, dóceis, dependentes e fáceis de liderar. Muito pelo contrário, eles procuram selecionar pessoas com o talento necessário para ter um desempenho de nível global – preparadas, competitivas, agressivas e com mentes criticas e independentes. Preferem, portanto, o desafio de atraírem profissionais de talento e focalizarem-nos para a produtividade ao desafio de tentar fazer com que outros menos talentosos adquiram talento.”

Marcus Buckingham & Curt Coffman

First, Break All The Rules, 1999

A cidade de Londres, Inglaterra, abriga um restaurante grego, conhecido pelo nome de “Anemos”, localizado na Charlotte Street, distrito londrino de Soho, famoso pela sua decoração interna com murais da antiga e moderna Grécia, músicas vibrantes e contagiantes, pratos deliciosos e um ritual importado da antiga tradição e cultura grega – “A quebra de pratos” – que segundo os historiadores e pesquisadores fazia parte da cultura grega há aproximadamente 4 mil anos.

Na Dinamarca, esse mesmo ritual ocorre na véspera de cada Ano Novo. É comum as pessoas jogarem os pratos quebrados nas casas de amigos e familiares. O significado desse gesto de quebrar pratos é que isso represente boa sorte no ano que está por vir.

Existem inúmeras versões para o cultivo desse ritual milenar:

A primeira – Os gregos antigos acreditavam que o barulho acarretado pelo quebrar de pratos amedrontava e, consequentemente, afastava os maus espíritos, assim como nossos fazendeiros acreditavam que os “scare crow” (espantalhos) afugentavam determinado tipo de passarinho de suas plantações.

A segunda – O ritual da quebra de pratos era a prova mais contundente do desapego das pessoas aos bens materiais e as coisas puramente de natureza humana. Tudo na vida passa, visto que ela é fluida e está o tempo todo em movimento. Portanto, ninguém deveria se apegar àquelas coisas que não as levarão consigo para a eternidade.

A terceira – Quebrar pratos pode simbolizar também abundância. “We have so many plates we can break them.” Esse ritual assemelha-se ao ato de acender uma lareira com notas de dinheiro.

A quarta – Nos tempos modernos, a quebra de pratos adquiriu significados mais simples, sendo usado para demonstrar apreciação do público por um cantor ou para animar um grupo de pessoas que estivesse dançando.

Ao refletir sobre esse ritual e desejar aplicá-lo à vida cotidiana dos profissionais, acredito que ele pode ter o seguinte significado – “A conquista de sua própria liberdade”:

  • A libertação de um trabalho que o escraviza.

Atualmente assessoro uma executiva em transição de carreira que em nossa primeira reunião me confidenciou chorando: “Professor, sinto-me liberta, totalmente liberta, com o meu afastamento de minha organização. Estava me sentindo extremamente infeliz, improdutiva e doente”.

Sim, caro leitor, há inúmeros trabalhos que em vez de libertar homens e mulheres, os escravizam.

  • A libertação das mãos de um chefe medíocre, centralizador e psicopata.

Ao longo de minha carreira consultiva tomei conhecimento de histórias verdadeiramente surpreendentes – gestores que se utilizavam de seu poder para infernizar a vida de seus subordinados. As consequências de suas ações, além de ácidas, eram destrutivas de vidas e carreiras.

Lembro-me de uma executiva que em transição de carreira me disse que havia extraído dois tumores das mamas em decorrência do comportamento de seu ex-chefe – truculento e insensível; e sem nenhum respeito aos seus subordinados.

  • Libertação do embotamento mental intelectual

 A carreira executiva, se não for bem administrada, acabará por conduzir o profissional à Caverna de Platão, onde reina a escuridão, a ignorância, a mediocridade, a mesmice e a rotina massacrante.  

Tenho observado ao longo dos anos que muitos profissionais abdicaram precocemente dos estudos continuados – eles pararam de aprender e a desaprender também. Muitos são incapazes de completar a leitura de dois livros por ano. Outros não sabem escrever uma simples carta de apresentação pessoal sem erros de português.

Lembro-me que recebi uma dessas cartas de apresentação pessoal de um professor de renomada escola de administração em São Paulo, capital, que procurava identificar uma posição executiva no mercado de trabalho.  Após lê-la e Identificar uma quantidade enorme de erros gramaticais, enviei-lhe um e-mail indagando se ele tinha redigido aquela carta e alertando-o sobre os erros primários de redação. Esses erros manchavam o seu título de professor e depunham contra a escola onde ensinava.

A sua resposta foi imediata. Ele alegava que tinha chegado recentemente dos EUA onde tinha adquirido um computador durante sua viagem e que os erros gramaticais foram produzidos pelo computador.  Ao ler a sua resposta, silenciei. Culpar um computador pelos erros de português cometidos era de um primarismo intelectual grosseiro.  (Guardo essa carta em meus arquivos pessoais até hoje).

Se esse é um caso de “aprisionamento mental intelectual”, existem centenas de outros que quando advertidos sobre o problema, movem-se com a velocidade do vento, a fim de conquistarem a sua liberdade mental.

Ouvimos diariamente nos escritórios da Gutemberg Consultores depoimentos de homens e mulheres que se libertaram da escravidão mental intelectual por meio da leitura. Todos eles compreenderam rapidamente que o homem que não cultiva o habito da leitura não tem nenhuma vantagem sobre aqueles que não sabem ler.

Caro leitor, a libertação de um incômodo, problema ou qualquer outro fator que nos aprisiona e angustia é a sensação mais divina que pode ocorrer em nossas vidas. Em geral temos o péssimo hábito de alimentar nossos problemas e insatisfações, anos a fio, na crença de que eles irão se resolver por si mesmos. Adiamos nossas decisões e acabamos por carregar uma cruz mais pesada do que o necessário, levando-nos muitas vezes ao esgotamento e até mesmo a perda de nossa saúde.

No trabalho, na vida pessoal e familiar enfrentamos situações que já não são mais fontes de prazer e renovação, seja porque as circunstâncias mudam naturalmente, ou porque nossos interesses também se modificam. A dificuldade de “quebrar os pratos” parece ter relação direta com o medo de perder alguma coisa, de tomar a decisão errada ou simplesmente por acomodação – permanecer no lugar que já é familiar, mesmo pagando um preço alto pela gigantesca insatisfação que o consome vagarosamente.

Toda mudança, a principio, parece ser um caos. Primeiro piora para depois melhorar. Primeiramente a pessoa sofre para depois enxergar a luz e o novo caminho a ser trilhado. Esse processo criativo se aplica à vida e a carreira.

Caro leitor, “Quebre todos os Pratos” e utilize esse ritual milenar grego para se libertar de tudo aquilo que o impede de viver uma vida e carreira vitoriosas. Na visão pós-bíblica do mundo, não podemos ser morais, a menos que sejamos completamente livres. “Se não somos livres”, advertiu Thomas L. Friedman, “na verdade não contamos com o poder de fazer escolhas, de modo que não estaremos agindo inteiramente por conta própria. O que Deus nos diz é que você está realmente livre no ciberespaço. Espero que faça as escolhas certas, porque se fizer, Deus estará presente”.

Portanto, escolha “Quebrar todos os Pratos”, especialmente aqueles que simbolizam todos os problemas de sua vida e carreira. Viva uma nova vida a partir desse instante – “E conhecereis a verdade e ela vos libertará”.

 

  

5 thoughts on “QUEBRE TODOS OS PRATOS”

  1. Gutemberg, como sempre uma linda e inspiradora mensagem. Funciona para todos, sejam os que estão em transição, ou aqueles que “ainda” estão sob as amarras do passado ou do autoritarismo diário de seus superiores. Os Gregos ensinaram muito para o mundo, com seus filósofos e pensadores, portanto esta simbologia dos pratos, vai muito mais além e seguramente traz uma solida reflexão.

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