Promova-se em sua organização sem a necessidade de vender a sua alma ao diabo.

 

(I Parte)

Por Gutemberg B. de Macedo

“Se você souber se vender em sua organização como um profissional preparado, talentoso, competente e de valor excepcional, todas as oportunidades fatalmente fluirão em sua direção. Portanto, lembre-se que o seu trabalho mais importante é o de promover-se interna e externamente sem a necessidade de vender a sua alma ao diabo.”

Gutemberg B. de Macedo

Presidente da Gutemberg Consultores Ltda.

 

“O homem em ascensão precisa fazer alguma coisa excepcional

 e além do âmbito do seu departamento. Ele deve chamar a atenção”.

Andrew Carnegie, Industrial norte-americano, 1835 – 1919

 

Ao longo de minha extensa trajetória consultiva tenho encontrado um contingente significativo de profissionais habilidosos, competentes, preparados e incansáveis na execução de suas atividades operacionais, cujas carreiras não avançaram na velocidade que eles gostariam que tivessem fluido. Além do mais, seus trabalhos raramente receberam o devido e merecido reconhecimento de seus superiores imediatos e de sua organização. Infelizmente, ao longo do tempo eles se tornaram, parcial ou totalmente, invisíveis. A sabedoria milenar há muito advertiu – “o que não é visto é como se não existisse”.  

Esses profissionais, em geral, são vítimas de si mesmos. Afinal, eles não sabem vender as suas ideias, projetos e realizações. Isto é, quando eles realizam trabalhos excepcionais e modelares não sabem promovê-los junto à alta administração. Por outro lado, eles se esquecem de praticar o princípio milenar do cristianismo que diz: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras.” (Palavras proferidas por Cristo no Sermão do Monte, Evangelho Segundo São Mateus 5. 16).

Esse mesmo princípio foi expresso com outras palavras pelo historiador norte-americano, Robert Greene, “The 48 Laws of Power,” 1998, “[…] o que não se vê não conta. Não fique perdido no meio da multidão ou mergulhado no esquecimento. Destaque-se. Fique visível. […] Atraia as atenções parecendo maior, mais colorido, mais misterioso do que as massas tímidas e amenas”.

Em anos recentes, consultores norte-americanos também ofereceram conselho semelhante:

“Para que os gestores se tornem bem-sucedidos, eles precisam pensar em si mesmos como um empreendimento individual”.

O mais popular desses “consultores- gurus”, Tom Peters, em polêmico artigo intitulado “The Brand Called You (A Marca Chamada Você) publicado na revista Fast Company, aconselhou os profissionais que conhecessem a si mesmos, compreendessem seus clientes, desenvolvessem competências exclusivas vendáveis que os ajudassem a se destacarem na multidão, se necessário, que reinventassem a si mesmos. “Para estar e permanecer na ativa hoje em dia, seu trabalho mais importante e ser o profissional de marketing (head marketer) chefe da marca chamada você”.

Em fábula indiana, “A Vespa e o Príncipe”, a vespa diz para si mesma, antes de sua morte, “Um nome sem fama é como fogo sem chama. Nada como chamar a atenção”.

Os motivos comumente apresentados para a prática de tamanho equivoco “esquivar-se de fazer a própria promoção, chamar a atenção, expor-se, tornar-se visível, vender-se, stand – out, são cinco:

Primeiro – Eles esperam que o seu superior imediato reconheça e propague o seu trabalho internamente perante a alta administração. Entretanto, são verdadeiramente raros, os superiores imediatos que promovem as causas, os projetos e as carreiras de seus subordinados. Eles estão mais preocupados com o progresso de suas próprias carreiras. Esse tipo de comportamento é o mais observado nas organizações.

Em minha opinião e à luz de minha experiência, estudos e pesquisas, afirmo com total convicção: profissionais que não vendem os seus trabalhos, que não se expõem permanentemente em suas organizações, nunca chegarão à lugar nenhum. Quando criança aprendi com meu pai um tradicional provérbio que dizia: “mulher que não coloca a sua cara na janela nunca casa.”

Muitos produtos brilhantes não têm sustentação no mercado por uma simples falha de marketing: seus potenciais consumidores simplesmente nem sabem que o produto existe, ou em linguagem de marketing, fracassam por “low awareness”.

Aqui, os princípios a serem observados são:

  1. Noventa por cento do sucesso profissional é se mostrar total e permanentemente em sua organização;
  2. A exibição preenche muitos espaços vazios, encobre deficiências, e faz tudo renascer, especialmente se apoiada pelo mérito autêntico.

Há uma recomendação extraída da sabedoria humana que diz: “Procure, pois, a pessoa sábia, ter em si alguma coisa de comerciante, pelo menos o suficiente para não ser enganada ou até ridicularizada. A pessoa de talento prefira os cargos bem reputados, que sejam vistos por todos e cuja influência se estenda a todos, e ficará imortalizada pela opinião geral.” (Baltasar Gracian, Oráculo Manual, 232 e 67, 1647).

Segundo – Eles acham que o trabalho empreendido – “os resultados obtidos” – serão suficientes para expô-los e consagrá-los na organização a que servem.

Esse é outro engano gravíssimo, pois se eles não souberem se posicionar diante dos holofotes ou dos radares da alta administração e se valorizarem, eles nunca chegarão à “Terra Prometida”. Todos, inevitavelmente, morrerão no deserto. Não é à toa que a vasta maioria de profissionais reclama que os seus trabalhos não são devidamente reconhecidos.

O princípio a ser adotado sobre essa questão é: “É responsabilidade de cada profissional divulgar o seu bom trabalho – a sua importância e os benefícios que eles trarão para a organização.” Portanto, nunca assuma que você será visto e que receberá os elogios ou os bônus que diz ter direito de recebê-los simplesmente porque fez um excelente trabalho. Toque o trombone. Toque as buzinas. Acenda as luzes. Afinal, como diz Robert Greene, “Foi a luz que deu brilho a toda criação”.

Essa afirmação é baseada nas palavras do autor do Primeiro Livro de Moisés Chamado Gênesis que diz: “Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e para anos.” (Gênesis 1.14).  

Conheço um executivo de renomada empresa multinacional norte-americana. Como seu amigo e conselheiro, sempre o incentivei a ler muito e a utilizar esse importante veículo, a autopromoção, a fim de avançar mais rápido em sua carreira.

Recentemente, após receber excelente avaliação de seu vice-presidente de marketing, ele foi surpreendido com um e-mail do vice-presidente da área comercial que dizia: “mantenha-se no radar do presidente, pois ele está de olho em você.” Em outras palavras, “Get into Place.”

Em 2008, li a recomendação feita por David F. D’Alessandro, ex-CEO da John Hancock Financial Services, em um de seus trabalhos, “Executive Warfare”, que reforça nossa posição: “Don’t expect people to come around and hold out a Halloween basket for you so that you can pick whatever revenue-generating job you want. Put yourself into position. Make it known that you want a revenue-gathering job. Don’t just raise your hand when a job comes up, when people are already thinking of other candidates. Raise your hand in advance. […] Become well known as a person who can get something done. Almost never ask for a favor in return. And you will be repaid amply when you really need it.”

Terceiro – Eles, erroneamente, consideram que o ato da autopromoção – “vender-se” – está intimamente associado à ideia de “showing off”, “bragging” ou “selling out their soul to the devil.”

Essa falácia gera um sentimento de “anti self-promotion.” Consequentemente, eles não desejam praticá-la de maneira consistente e também como uma prática extremamente importante para o sucesso de suas carreiras.

Autopromoção tem como objetivo projetar sua competência com firmeza e sabedoria, propagar internamente em sua organização a sua eficácia na gestão de seu trabalho e, entre outras questões, os resultados extraordinários que você conquistou.

Caro leitor, a autopromoção é um recurso altamente honesto e singular quando usada com integridade, sinceridade, prudência e transparência. Ela pode alavancar os seus pontos fortes, habilidades, competências, talentos naturais, resultados positivos de seus trabalhos, promover a sua carreira de maneira espetacular e ampliar e enriquecer os seus relacionamentos.

A autopromoção quando utilizada intencional e estrategicamente pode ser altamente gratificante, visto que ela é um componente adicional que gera visibilidade e, ao mesmo tempo, comunica valor. Quando você promove suas realizações você permite que sua organização avalie com mais informações quem realmente contribui para seus resultados de forma mais transparente.

Reconheço que alguns profissionais se utilizam desse valioso veículo de maneira inadequada. Em geral, esses profissionais demonstram exacerbada falta de habilidade política e são considerados “schmoozers” e “braggarts.”

Independentemente de que posição você assume a respeito desse assunto, Peggy Klauss, consultora norte-americana, em livro, “Brag! The Art of Tooting Your Own Horn Without Blowing It,” 2003, afirma que “bragging” é uma necessidade absoluta no ambiente de trabalho em nossos dias: “To refuse to brag and insist remaining quiet often means no one appreciates all you do, and you may even find others taking credit for your accomplishment.”

Quarto – Eu não tenho tempo a perder com esse tipo de comportamento ou conduta – empreender a minha autopromoção na organização.

Conheço e já assessorei inúmeros profissionais em projetos de transição de carreira que se manifestaram visceralmente contra o uso da autopromoção em seu ambiente de trabalho.

No ambiente corporativo, eles são péssimos “players” políticos. A sua inteligência política, social e mercadológica são comprovadamente subdesenvolvidas. A política não é uma perniciosidade empresarial ou governamental, ela é o produto de uma vida em sociedade, do organismo social que nós formamos ao trabalharmos em grupo, seja em prol de um condomínio, bairro, cidade, país ou empresa. Ao trabalharmos em grupo precisamos persuadir liderar e gerar ações em conjunto, e se o grupo não sabe quem catalisa as ações não pode dar crédito a quem as gerou.

Não é de admirar que os maus políticos corporativos estejam sempre resmungando e reclamando nos corredores de suas organizações, de seus superiores, pares e até mesmo subordinados: “os nossos trabalhos não são valorizados e muito menos reconhecidos”.

A consultora norte-americana, Peggy Plaus, em trabalho anteriormente citado, diz que essa é uma postura ultrapassada: ”Whereas bragging about oneself in the workplace used to be regarded as quite inappropiate and not na effective way to get ahead, some are beginning to argue that bragging is a good thing, essential to get you noticed and evaluated favorably.”

Quinto – Os líderes de minha empresa não admitem na organização que seus colaboradores se utilizem do expediente da autopromoção.

                  

Se o comportamento dos líderes de sua organização em relação à autopromoção de seus colaboradores é esse, permita-me lhe dizer: eles estão redondamente equivocados. Eles necessitam se ajustar à nova realidade do mercado corporativo que diz: Se você verdadeiramente empreendeu algo espetacular – recuperou um cliente perdido, ganhou novo cliente, fez uma redução operacional significativa, desenvolveu um produto vencedor, recebeu um elogio ou um prêmio, entre tantas outras coisas – apareça, apareça e apareça. Num ambiente meritocrático, atribuir méritos às pessoas corretas é imprescindível. Por isso não se esconda de suas contribuições, a não ser que não as tenha, e, portanto, não lhe resta reclamar.

Como escrevemos no início deste trabalho, nunca espere que os outros façam por você o que somente você pode fazer por você mesmo. Portanto, como dizem os norte-americanos, “Rise to the occasion”.  

Os gestores deveriam ser os primeiros a desejar ouvir e propagar as idéias geradas pelos seus colaboradores, querer saber o que acontece com seus liderados e ambicionar escutar sobre suas realizações e o progresso individual de cada um. Infelizmente, muitos não fazem com medo de ser ultrapassados pelos pares ou subordinados.

Gosto muito da observação feita pelas renomadas consultoras norte-americanas, Gina Hernez-Broome, Cindy McLaughlin e Stephanie Trovas:

“Effective sel-promotion isn’t all about – but it is about your leadership role. While senior management does not need excruciating detail about you and your current task, they do want to know that you are engaged in your work and in the goals of the organization. Have a clear statement in mind – a promotional sound bite – about a key project or component of your work. If you’re asked about your work, you can take advantage of the moment to demonstrate your credibility as a communicator and a leader.

For instance, if someone asks, ‘How is your project’ don’t limit your response to ‘It’s fine or ‘We are really busy.’ Instead say, ‘The project is great,’ and then briefly describe what you’ve done so far and how it’s making a difference.”

Caro leitor, promova-se em sua organização. Não permita que profissionais medíocres tomem o seu lugar e avancem em suas carreiras simplesmente porque você permanece calado em sua sala ou posto de trabalho, esperando que o mundo o reconheça pelo seu trabalho. O mundo não toma ciência de sua existência até que você diga a que veio.

Portanto, sugiro que siga o conselho dado por Robert Greene: “Não aceite os papéis que a sociedade ou a organização lhe impinge. Recrie-se forjando uma nova identidade, uma que chame atenção e não canse a platéia. Seja senhor de sua própria imagem, ao invés de deixar que os outros a definam para você.” Como dizia Winston Churchill, se você não definir quem você é e quais são os seus princípios os outros o farão para você e, certamente, de forma perniciosa para denegrir suas realizações em favor de si próprios.

 

2 thoughts on “Promova-se em sua organização sem a necessidade de vender a sua alma ao diabo.”

  1. Excelente! Texto muito bem argumentado e com citações e pensamentos de grandes especialistas e personalidades.

    Sr. Gutemberg, permita-se ressaltar alguns trechos que, ao meu modo de ver, são os pontos-chave do texto:

    “Se você verdadeiramente empreendeu algo espetacular – recuperou um cliente perdido, ganhou novo cliente, fez uma redução operacional significativa, desenvolveu um produto vencedor, recebeu um elogio ou um prêmio, entre tantas outras coisas – apareça, apareça e apareça. Num ambiente meritocrático, atribuir méritos às pessoas corretas é imprescindível. Por isso não se esconda de suas contribuições, a não ser que não as tenha, e, portanto, não lhe resta reclamar.”

    “Não permita que profissionais medíocres tomem o seu lugar e avancem em suas carreiras simplesmente porque você permanece calado em sua sala ou posto de trabalho, esperando que o mundo o reconheça pelo seu trabalho. O mundo não toma ciência de sua existência até que você diga a que veio.”

    “Como dizia Winston Churchill, se você não definir quem você é e quais são os seus princípios os outros o farão para você e, certamente, de forma perniciosa para denegrir suas realizações em favor de si próprios.”

    Dicas valiosíssimas!

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