OUTPLACEMENT, A ESTRADA PARA A AUTO-RENOVAÇÃO

Por Gutemberg B. de Macedo

“Ser despedido foi muito duro para a minha autoimagem. Mas junto com isso veio também uma estranha sensação de silêncio e paz. […] Para mim, o entusiasmo por aquele trabalho já se extinguira. Hoje, em retrospecto, vejo que esse fato me deu a oportunidade de começar vida nova. E foi o próprio processo de reinventar a mim mesmo e as minhas prioridades que me ajudou a sair mais cedo do deserto.”

Richard Edler, 1944-2002

Ex-presidente das empresas Doyle, Dane, Bernback; McCann-Erickson e Foot, Cone & Belding

A demissão, não importa a sua causa, é um evento traumático para a maioria dos profissionais, principalmente para aqueles que não a esperavam e não se prepararam adequadamente para o novo mundo das organizações, onde o modelo tradicional de trabalho ficou para trás há mais de três décadas.

As reações à notícia da demissão variam de profissional à profissional, mas certamente abalam com maior intensidade aqueles que ocupam posições mais elevadas na hierarquia corporativa. A declaração de ex-diretor de grande empresa multinacional reflete essa realidade: “Senti o mundo desabar sobre mim ao receber a notícia de minha demissão.”

Os sentimentos que geralmente acompanham uma demissão são:

  • Alívio – afinal, minha angústia, insatisfação e infelicidade com o meu trabalho ou a minha organização chegou ao fim. Eu já a esperava. Os sinais estavam se tornando visíveis.  
  • Descrença – por que estou sendo demitido se durante muitos anos fui sempre bem avaliado e sempre produzi os resultados esperados pela empresa?
  • Medo e insegurança – não me sinto cabalmente preparado para enfrentar o complexo e competitivo mercado de trabalho. O mundo das organizações mudou substancialmente nas últimas décadas. Acredito que não acompanhei como devia a sua transformação e evolução.
  • Raiva – perdi meu autocontrole no momento em que meu chefe me comunicou a notícia de minha demissão. Explodi. Perdi a cabeça literalmente. Afinal, minha reação não poderia ter sido outra. Senti-me traído, ultrajado em minha dignidade e desrespeitado. Sempre achei que meu chefe me protegeria nessa hora.
  • Negociação – vou tentar negociar com minha organização a transferência para outro departamento, divisão ou subsidiária. Estou disposto até mesmo a ocupar uma posição inferior e a receber uma remuneração menor. O que não quero é ficar desempregado.
  • Aceitação da demissão como o final de um ciclo e o começo de uma nova vida e carreira – agora, passado o susto, eu reconheço que necessitava verdadeiramente ser chacoalhado. Acredito que eu estava conduzindo minha carreira no piloto automático. Tudo era conhecido e muito rotineiro.

Caro leitor, permita-me fazer algumas considerações que julgo serem importantes para você e sua carreira, à luz de minha longa experiência, 40 anos, no aconselhamento a presidentes, diretores e gerentes em transição de carreira, caso você tenha sido afastado de sua organização:

  • Todo profissional está sujeito à demissão. Ninguém, ninguém mesmo, está imune a ela. Portanto, o melhor é estar sempre preparado para encará-la com ousadia e coragem.
  • Você pode se beneficiar tremendamente e ganhar inúmeras vantagens competitivas ao ser demitido. Algumas das mais importantes: você terá de abandonar a sua zona de conforto rapidamente; você terá de criar novos objetivos para sua vida e carreira; você terá de aprender a gerenciar melhor as suas finanças pessoais; você terá de aprender a administrar sua carreira como se ela fosse o negócio mais importante de sua vida; e, entre tantos outros, você terá de desenvolver novos valores pessoais, profissionais e até mesmo familiares. Portanto, é preciso renascer das cinzas como a ave Fênix.
  • Você pode até ficar chocado ao descobrir que aqueles que realmente poderiam fazer alguma coisa pela sua carreira não pensam em você o tempo todo. Garanto que pensam em você apenas durante um décimo de 1% do tempo que você passa pensando sobre si mesmo. Como escrevi em artigo publicado em 2012 no site www.gutemberg.com.br e, “o seu valor para o seu chefe é o grau de sua utilidade.” Nunca menospreze essa verdade. Se relegá-la, terá grandes decepções ao longo de sua carreira. Confesso que vejo isso acontecer todos os dias.
  • É verdade que as organizações respeitam os resultados mensuráveis que você conquistou, mas é a maneira como eles foram obtidos que o conduz às novas promoções. Portanto, os fatores decisivos e determinantes de sua permanência ou não na organização na maioria das vezes dependem das qualidades não mensuráveis – o que não está escrito nos manuais ou nas descrições de cargo.  Elas muitas vezes são mais importantes e vitais. Refiro-me a qualidades pessoais como criatividade, espírito empreendedor, rapidez e lucidez na tomada de decisão, formação e desenvolvimento de subordinados, coragem para lidar com problemas complexos, disposição para pensar e agir diferente, bom humor e capacidade de manter a sua equipe motivada e comprometida, habilidade política, criação de uma marca pessoal forte, etc.

Creia-me, a demissão é uma oportunidade que a vida lhe dá para que você descubra e percorra a estrada nunca antes percorrida. Ou, como costumo dizer a todos os meus clientes no início de projetos de recolocação, “A demissão é uma oportunidade que Deus lhe dá para que você se reinvente em todos os sentidos e descubra qual é a sua verdadeira missão na terra”.

Acredito piamente na expressão extraída das Sagradas Escrituras que diz: “O homem pode até planejar o seu caminho, porém é Deus quem determina o seu destino.”

Se você caro leitor for cético a respeito dessa verdade, fatalmente pagará um altíssimo preço. Será que você deseja e está preparado para pagá-lo?

O exemplo abaixo ilustra com beleza esse processo de renovação pessoal:

Galdino de Oliveira (nome fictício), 54 anos, casado, pai de dois filhos, empreendeu carreira executiva em empresas nacionais e multinacionais de grande porte. Profissional com excelente formação acadêmica, inteligente, maduro, ético e aguçada capacidade para detectar problemas e solucioná-los, entre inúmeras outras virtudes.

A carreira executiva lhe proporcionou enorme satisfação. Mas a vida lhe pregou grandes e inesperadas surpresas. Ao fazer um exame de saúde rotineiro, Galdino descobriu que tinha um câncer na próstata e deveria removê-lo o mais rápido possível. Removido o tumor, lhe advém outra surpresa. A empresa onda ocupava a posição de diretor, o demitiu sem que ele esperasse.

Nesse momento delicado de sua vida, fomos contratados por sua empresa, a fim de assisti-lo em seu processo de transição de carreira. O desafio posto era enorme, mas o espírito intrépido e combativo do executivo era muito maior do que o próprio desafio.

Em nenhum momento de sua transição, ele demonstrou fraqueza, medo, insegurança ou sensação de fracasso. Muito pelo contrário, comportou-se com elegância, firmeza e confiança. Como aluno curioso e disciplinado, absorveu dezenas e dezenas de horas de aconselhamento. Era uma verdadeira esponja. Estava sempre com o seu caderno em mãos para escrever sobre tudo o que despertava sua curiosidade e interesse. Comportamento muito diferente daquele observado em parcela significativa dos profissionais em processo de recolocação. A bem da verdade, a maioria deseja apenas encontrar um novo emprego. Nada mais, além disso. Portanto, quanto menor o esforço melhor.

É uma pena, visto que poderiam enriquecer tremendamente suas vidas e carreiras; mudarem a arraigada maneira de pensar e de agir; tornarem suas carreiras mais competitivas; investirem no autodesenvolvimento, entre outras tantas necessidades explícitas.

Vejamos o depoimento de Galdino de Oliveira:

“A leitura dos últimos artigos escritos por Gutemberg B. de Macedo sobre os “Profissionais Criados em Cativeiro” no site www.gutemberg.com.br me fizeram lembrar de uma estória que li há muito tempo, mas que traduz muito bem o período de transição que vivi na Gutemberg Consultores. Chama-se “A Renovação das Águias”, tido por uns como uma grande mentira e por outros tão somente um texto de auto-ajuda. 

[…] Não obstante a veracidade ou falsidade dessa estória, entendo este como sendo mesmo um texto de auto-ajuda, do qual faço uma analogia como meu período de transição de carreira. É um período muito difícil, cheio de dúvidas, incertezas, frustrações, um verdadeiro deserto, mas ao mesmo tempo, um período de reflexão, revisão, aprendizado, planejamento, mudança e RENOVAÇÃO. O que irá prevalecer, dependerá da nossa própria escolha. Eu escolhi renovar!

[…] Nesse período desenvolvi meu Networking, retomei contatos com o mercado, universidades e feiras. Pesquisei oportunidades de novos negócios. Conheci novos profissionais. Reencontrei velhos amigos e também fiz inúmeras novas amizades. Fiz curso de empreendedorismo, de sommelier de cervejas, estudei e li muito – livros, revistas de negócios, jornais, etc

Confesso que empreender uma viagem nessa estrada não foi nada fácil. Para completá-la com sucesso, muitas vezes tive que buscar forças extraordinárias, o apoio da família, dos amigos, os conselhos inestimáveis dos diretores da Gutemberg Consultores, resistir, levantar, manter-me de pé, agir rápido, mudar e renovar. Era preciso “compreender a marcha e ir tocando em frente”! ”Sim, eu tenho convicção e segurança de que mudei muito ao caminhar nessa estrada.”

Caro leitor, esse é um exemplo digno de discorrer sobre ele. Afinal, é um exemplo concreto e real de um profissional que tirou proveito de sua caminhada na estrada – outplacement.

Portanto, recomendo à todos os profissionais em transição de carreira que:

  • Afastem-se da mediocridade – “A Caverna de Platão.” Estudem. Leiam. Aprimorem-se cada dia e cada vez mais. O mundo pertence aqueles que apresentam novidades todos os dias.
  • Examinem em profundidade suas vulnerabilidades e as eliminem rapidamente. Não tenham medo de descobrir pontos passíveis de aprimoramento ou total eliminação. “A janela da oportunidade pode ser estreita, mas o que está em jogo pode mudar para sempre o rumo de suas vidas. E uma rápida avaliação sobre você em um desses momentos significa mais para sua carreira do que uma pilha de um metro de altura de análises de desempenho em seu arquivo pessoal”.
  • Aprendam a cultivar novos hábitos e comportamentos no ambiente corporativo. Sim, você precisa combater seus piores hábitos, vícios e impulsos. É muito fácil relaxar e deixar que tolices ditas durante o almoço e reuniões informais influenciem sua marca pessoal negativamente. Também é fácil fechar os olhos diante dos momentos reais em uma carreira e desperdiçá-los.
  • Evitem ceder à tentação de pegar pequenos atalhos de vez em quando, pois amanhã descobrirão a duras penas que isso custou toda a sua dedicação e empenho. Percorra todo o caminho, milha a milha.
  • Lembrem-se de que as maiores batalhas em uma carreira são aquelas que vocês empreendem contra vocês mesmos. Esses são os seus verdadeiros inimigos. Portanto, para ser senhor de si é preciso subjugar-se a si mesmo.
  • E não menos importante, lembrem-se ainda que o melhor consultor nessa travessia não é aquele que o transforma “num sabonete ou pasta dental,” que lhe diz palavras adocicadas, mas aquele que o conduz pela estrada com firmeza e segurança e lhe diz coisas que você não esperava e não desejava ouvir. Em outras palavras, um profissional preparado, culto, curioso, versátil em vários saberes e não um mero multiplicador de conceitos sobre os quais tem conhecimento apenas superficial.  

Ao longo de minha carreira como consultor especializado em “outplacement e executive coaching” tenho visto muitos homens e mulheres talentosos e capazes desperdiçarem a carreira simplesmente porque não tiveram a coragem e a humildade para questionarem a si mesmo no devido tempo. Não permitam que isso aconteça a vocês. Aconselhar-se não diminui a grandeza nem depõe contra a capacidade; ao contrário, aconselhar-se bem constitui uma prova dela. É preciso promover o debate na razão para não sofrer o combate da desgraça.

Seja um profissional sábio, prudente e inteligente. Examine o progresso de sua carreira todos os dias como se você fosse um escultor esculpindo uma estátua em pedra bruta.       

 

 

 

4 thoughts on “OUTPLACEMENT, A ESTRADA PARA A AUTO-RENOVAÇÃO”

  1. Excelente reflexão! Só não muda, quem não quer….a travessia é difícil mesmo e cabe a cada um definir a melhor forma de percorrer essecaminho. Passo a passo! É um exercício diário e a cada dia ficamos mais fortes e assim deve ser! Recomendo o texto para todos os momentos de nossas vidas. Temos a obrigação de buscar sermos melhores, sempre! Obrigada Gutemberg!

  2. Ótimo mestre, penso que as condições neste momento, sejam elas positivas ou negativas são criadas em grande parte por nós mesmos, internamente, digo isto, pois, temos o fator externo que também pode pesar muito nas nossas reflexões e equilíbrio emocional e espiritual.

  3. Gutemberg, excelente artigo.
    Nele muita sabedoria e orientações de como crescer e sair fortalecido da transição de carreira. Humildade e auto-conhecimento são pontos-chave nesse momento.

Deixe uma resposta para Thaís Helena Alves Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *