OS DOZE SINAIS VISÍVEIS DE UMA CARREIRA EM DECLÍNIO – (II Parte)

 

Por Gutemberg B. de Macedo

“A miséria que o oprime não decorre de sua profissão, mas de você  mesmo! Quem no mundo não acharia sua situação intolerável se escolhesse um ofício, uma arte, aliás, qualquer estilo de vida, sem experimentar um chamamento interior? Quem quer que nasça com um talento, ou para um talento, certamente o considerará a mais agradável das ocupações! Tudo na terra tem o seu lado difícil. Só algum impulso interior – o prazer, o amor, a determinação – pode nos ajudar a superar os obstáculos, a desbravar o caminho e a nos erguer acima do círculo estreito em que outros arrastam suas existências angustiadas e miseráveis!

Johann Wolfgang Von Goethe, 1749 –1832

Poeta, escritor, e estadista alemão

  

O mundo pós-industrial passa por profundas e turbulentas transformações que afetam a vida e a carreira dos profissionais. No entanto, muitas vezes, eles não são capazes de identificar com clareza as ameaças e as oportunidades que elas lhes oferecem. Consequentemente, passam a viver e a trabalhar em ambiente que não existe mais, a não ser em suas mentes atrofiadas.

Há muito tempo atrás, li uma história antiga de um monge e uma moenda vinícola, que ilustra de maneira soberana essa questão.

Um velho monge italiano era reconhecido por fabricar vinho usando o antigo método de pisar nas uvas. Certo dia, ele recebeu em sua moenda vinícola um rico industrial que tomara conhecimento sobre a qualidade e sabor de seu vinho e desejava experimentá-lo.

O visitante, após experimentar sucessivas vezes o vinho produzido pelo velho monge, ficou extremamente impressionado com o sabor, a leveza e pureza do vinho que resolveu presenteá-lo com uma das moendas mais modernas existentes de sua época.

Meses depois, o rico industrial voltou à moenda vinícola e ficou surpreso ao observar que o monge continuava a produzir vinho como sempre fizera – pisando e esmagando as uvas.

Inconformado e intrigado com o que via, o rico empresário, perguntou ao monge: “Por que você continua pisando as uvas, em vez de usar a nova moenda?”

O monge respondeu que tinha gostado de usar a nova moenda por ele ofertada, mas que ela dificultava o seu trabalho. Com um olhar confuso, acrescentou: “Por que eu preciso usar uma moenda para espremer as uvas depois de pisá-las tão bem?”

Caro leitor, a mensagem dessa simples história é muito clara: se você tomar conhecimento que o mundo das organizações está mudando com tamanha velocidade e exigindo cada vez de seus profissionais em termos de formação acadêmica, experiência, conhecimento de novas tecnologias, inteligência politica e emocional, novas competências e atitudes, é melhor que você pare de pisar nas uvas – os caminhos trilhados até hoje – e comece a usar os novos meios, conceitos e técnicas de gestão proporcionados pelas novas tecnologias. Você não deve permitir que sua carreira entre em declínio simplesmente porque acha que tudo o que fez até agora deu certo e que, portanto, deverá continuar a trabalhar do mesmo jeito. Se você preferir o status quo, pisar nas uvas, será  fatalmente eliminado do jogo.

Na primeira parte desta série discorremos sobre cinco sinais que contribuem de maneira inquestionável para o declínio de uma carreira:

  • O medo atávico das mudanças
  • Parar de estudar e pesquisar sobre diferentes saberes
  • Preterido à novas promoções sucessivas vezes.
  • A perda da motivação
  • A Perda da curiosidade e da criatividade.

Neste artigo, continuação desta serie, desejo discorrer sobre outras questões importantes que se não tratadas com honestidade e seriedade,  poderão descarrilhar uma carreira até ontem promissora:

FALTA DE AMBIÇÃO

A falta de ambição é um dos pontos mais devastadores de uma carreira, não importa a sua natureza.  Sem ela, é inteiramente impossível conquistar novas posições e atingir o topo de uma carreira com brilhantismo – poder, status, fama, riqueza, glória e a sensação de que tirou proveito de todas as oportunidades que surgiram ao longo do caminho.

No curso de minha carreira consultiva tenho encontrado muitos profissionais que consideram a ambição como algo “satânico”. Portanto,  indigno e desprezível. Ledo engano, a ambição é um sentimento extremamente benéfico quando usado para o nosso próprio bem, de nossos semelhantes e da sociedade como um todo. Afinal, a ambição é algo mais do que olhar o ponto que o profissional deseja alcançar. Ambição é arregaçar as mangas e remar contra a corrente. Dai a instrução dada por Sam Walton, 1918-1992, fundador da Wal-Mart, “Vá pelo outro lado. Ignore a sabedoria convencional. Se todos estiverem fazendo de um jeito, há uma boa chance de que você consiga encontrar seu nicho indo na direção oposta.”

 Eu, pessoalmente, já estudei mais de mil biografias de políticos consagrados, empresários bem-sucedidos, executivos reverenciados, lideres religiosos idolatrados e militares respeitados, cujas vidas e carreiras revelam de maneira inequívoca o alto grau de ambição que cultivavam – todos, absolutamente todos, queriam ser profissionais diferenciados e vencedores.

O profissional verdadeiramente bem-sucedido é um individuo ambicioso, um rebelde que jamais se contenta com o status quo  e o qual não aceita como princípios de vida e carreira os mantras que dizem: “A vida é assim mesmo”, “Essa é a vontade de Deus”, “Deixe a vida me levar, vida leva eu”.   

AVERSÃO AO RISCO

Qualquer mudança, seja simples ou complexa, carrega com ela um potencial de risco muitas vezes difícil de dimensionar.  Esses riscos podem ser de qualquer natureza – emocional, financeira, social, profissional ou moral.  Independentemente de sua natureza, como disse Bob Marley, “É melhor atirar-se à luta em busca de dias e condições melhores,  mesmo correndo o risco de perder tudo, do que permanecer estático, como os pobres de espírito, que não lutam mas também não vencem, que não conhecem a dor da derrota, nem a gloria de ressurgir dos escombros. Esses pobres de espirito, ao final de sua jornada na Terra não agradecem a Deus por terem vivido, mas desculpam-se perante Ele, por terem apenas passado pela vida”.

Todo profissional, não importa a natureza de sua carreira e trabalho, precisa ser capaz de atuar em ambiente de risco nos dias atuais. Ele nunca poderá ser bem-sucedido se de alguma forma não adquirir coragem suficiente para assumir muitos riscos pessoais, mesmo que isso signifique desafiar o seu chefe em ocasiões e questões específicas, lançar um produto no mercado quando todos dizem que ele será um fracasso, mudar de empresas quando todos o aconselham a permanecer no seu emprego atual face a grave crise econômica brasileira, mudar para um país distante, entre tantos e tantos outros desafios.   

Infelizmente, nossa educação no lar e na escola – do maternal à faculdade –  contém muitos significados inconscientes que nos advertem sempre a não correr riscos. Quem não conhece as máximas: “Em time que está ganhando não se mexe”, “Quanto mais alto se sobe maior é o tombo”, entre tantos outros alertas para nos desencorajar e amedrontar. Na verdade, muitas das mensagens transmitidas por pais e professores aos filhos e alunos são em inúmeras ocasiões extremamente danosas.  Elas servem apenas para fomentar uma geração de profissionais inseguros, amantes do status quo e que odeiam corre riscos.       

É bom frisar que a nossa tendência a zona de conforto é tanto cultural como também fisiológica. Nosso cérebro nos alerta constantemente para observarmos os perigos existentes em qualquer ambiente. Sendo assim, nosso pensamento parte do principio do medo, e não da coragem. Temos medo de fracassar ou de simplesmente errar. Temos ojeriza daquilo que pode não dar certo. Curioso é que qualquer mudança desejada ou compulsória emerge de um desconforto – do medo ou da necessidade.

Caro leitor, empreender uma carreira de sucesso implica em se arriscar sempre, a competir com os outros, a tomar decisões que por vezes podem nos decepcionar, buscar novos rumos, às vezes incertos, explorar ambientes e mercados de negócios desconhecidos, relacionar-se com pessoas sem sempre tão confiáveis, a se expor quando tem uma opinião formada ou uma solução pra problemas totalmente diferente daquela proposta pelo chefe ou colega, entre tantos outros aspectos que comumente nos afligem.

Não há crescimento sem dor, como não há conquista sem tomar os riscos necessários. Tenho observado que muitos profissionais tentam se proteger fechando as oportunidades em detrimento de suas fragilidades. Sendo assim, assumem comportamentos absolutamente previsíveis a fim de agradar a todos, mesmo quando estão conscientes de que as pessoas mais desagradadas são eles mesmos.

Quando eles agem dessa maneira, tornam-se medíocres, conformados com o que conquistaram e sacrificam o seu potencial humano, não apenas do ponto de vista de crescimento da carreira, mas da plena realização. “Domam” os seus dons e passam a vida invejando ou denegrindo os mais ambiciosos e ousados.

ELEGE BODES EXPIATÓRIOS

A figura do bode expiatório é tão antiga quanto os ritos religiosos das mais distantes civilizações. Era ele quem era sacrificado no altar, a fim de expiar os pecados dos homens – “o inocente paga pelos pecados dos pecadores”.

Desde então, o bode expiatório começou a fazer parte da vida de homens e mulheres e a ser usado como se culpado fosse por tudo o que de ruim nos acontece.   

Ao longo de minha jornada consultiva encontrei inúmeros profissionais que ao invés de assumirem a responsabilidade pelos seus pensamentos, atos, ações, comportamentos e atitudes – e fracassos também – preferem eleger bodes expiatórios e culpá-los de maneira proposital como se eles fossem os causadores diretos de suas vicissitudes e quedas.

A eleição de um bode expiatório é efeito colateral de nossas inseguranças, uma tentativa de esconder nossas fraquezas e temores. Projetamos propositalmente nossos desconfortos, conflitos e fracassos em outras pessoas a fim de mantermos uma imagem irrepreensível de nós mesmos.

Ao agirmos de maneira tão “irresponsável” fornecemos evidências inequívocas da nossa falta de maturidade, responsabilidade e infantilismo. É bom frisar: “Nós não somos vítimas de ninguém. Nós somos vítimas de nós mesmos.” Isto é, nós somos vitimas de nossos próprios pensamentos, de nossas ações equivocadas, de nossos erros por vezes infantis, de nossas decisões apressadas e irrefletidas, de nossa língua e linguajar inadequado, de nossa incapacidade de ouvir os conselhos e as criticas construtivas de pessoas mais preparadas e sábias, entre inúmeras outras coisas.

Quando elegemos podes expiratórios para justificar as nossas falhas e erros comumente perdemos a confiança dos outros, pois recusamos a ver aquilo que não gostamos em nós mesmos e transferimos para eles. Sendo assim sempre haverá alguém para ser culpado – o chefe, a organização, o cliente, o fornecedor, o credor, o subordinado, o par, membros da família, o governo – menos eu.

Esse tipo de atitude tem sido muito comum no dia a dia das pessoas dentro e fora das organizações.  Todavia, ela não merece nenhuma credibilidade e, muito menos, qualquer tipo de compaixão. Ela merece apenas ser repudiada.  Repito: “Nós somos os únicos agentes responsáveis pelo que de bom ou mal nos acontece.” A esse respeito, vale lembrá-lo as palavras escritas e proferidas por Henry  Wadsworth Longfellow, 1807-1882,  poeta norte-americano: “Nem no clamor das ruas apinhadas, nem nos gritos e aplausos da multidão se encontram o triunfo e a derrota – mas dentro de nosso próprio coração”.

BAIXA TOLERÂNCIA ÀS RESPONSABILIDADES DE LIDERANÇA

O avanço do profissional na hierarquia corporativa exige preparo físico, mental intelectual, psicoemocional e espiritual. Aqueles de desprezarem uma dessas exigências, fatalmente fracassarão mais cedo ou mais tarde.

Temos ouvido e lido nos últimos anos sobre o número de profissionais que não se prepararam adequadamente para o exercício do poder. Consequentemente, quando eles assumiram novas e maiores responsabilidades, eles descarrilaram de forma vergonhosa e produziram um estrago muitas vezes irremediável.

O abuso do poder ou a negligência em exercê-la, gera o mais caótico dos sistemas gerenciais: improdutividade, turnover, absenteísmo, doenças psicossomáticas e queixas trabalhistas. O sucesso de muitas carreiras é interrompido quando o profissional ao receber maiores responsabilidades e maiores poderes coloca os pés pelas mãos. Isso ocorre quando o seu nível de preparo ainda é muito incipiente, ou, como na maioria das vezes, o profissional não quer assumir os riscos da liderança – tomar decisões complexas que atingem não só os negócios, mas a vida das pessoas que trabalham na empresa.

Os profissionais medrosos vivenciam a estrutura hierárquica como algo opressivo e sufocante. Não a percebem como necessária à organização, ao desenvolvimento das atividades e seus respectivos níveis de decisão. Quando escolhidas a cargos de liderança, eles relutam em assumir com coragem e maturidade as suas responsabilidades. Nessa circunstancia, a fim de aplacar seu medo, eles tentam enfraquecer o sistema malhando a direção, criticando as decisões de forma irresponsável e leviana, subestimando o poder dos outros e condenando o jogo politico vigente. São os rebeldes sem causas.

Vivenciar as estruturas de poder com autonomia e serenidade requer assumir riscos ligados às decisões, posicionamento, comprometimento, abertura para mudanças, compartilhamento de opiniões, habilidade para construir e manter alianças. Isto é, assumir riscos de diversas naturezas.

Caro leitor, aproveite as oportunidades para avançar em sua carreira, corra riscos responsáveis, evite alimentar a ideia arraigada de bodes expiatórios, experimente coisas novas e assuma a gestão e o controle de sua carreira. Portanto:

  • Determine com clareza quais são os seus objetivos de carreira e persiga-os com coragem, disciplina, foco e muita concentração.
  • Identifique quais são as suas vulnerabilidades mais visíveis e procure eliminá-las o mais rápido possível. Mas não se esqueça de cuidar com muita atenção de suas fortalezas.
  • Pense em profundidade a respeito das opções que estão disponíveis para você – mudar de empresa, de área, de chefia etc.  
  • Transforme seu superior num parceiro de sua carreira, caso contrário não irá a lugar nenhum em sua empresa atual.
  • Examine o curso de sua carreira a cada seis meses. Não deixe para fazê-lo apenas quando perde o seu emprego. Ai poderá ser muito tarde.  Seja o escultor de sua vida e carreira. Portanto, não deixe nada, absolutamente nada, fora de sua visão de trabalho.
  • Nunca perca a sua ambição e a vontade de crescer. Lembre-se que água estagnada apodrece.

Se você, leitor, percebe que esses sinais discutidos nesta série de artigos são visíveis aos seus olhos, faça alguma coisa imediatamente. Não fique esperando que outros façam por você. Eles jamais farão.   Corra. Corra e corra rápido. Afinal, como observou o líder politico e religioso Daila Lama, “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã. Portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer acontecer, empreender mudanças e começar a viver de maneira diferente.”        

       

  

One thought on “OS DOZE SINAIS VISÍVEIS DE UMA CARREIRA EM DECLÍNIO – (II Parte)”

  1. Mestre Gutemberg, mais uma bela matéria que expressa a verdade e a necessidade de manter-se atualizado e gerenciar mudanças. O “sempre fiz assim” não cabe na era em que vivemos de rápidas e constantes mudanças e evoluções. Fique com Deus!!!

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