OS ANJOS E O EXECUTIVO

Por Gutemberg B. de Macedo

                          “Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda. Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra. Pisarás o leão e o áspide; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.”

 

                                                                                Salmos 91.11-13

 

Não faz muito tempo quando voltando do almoço para o escritório acompanhado do ex-presidente de importante empresa multinacional norte-americana em processo de transição de carreira – outplacement -, fomos surpreendidos nas imediações do Conjunto Nacional, Alameda Santos com a rua padre João Manuel, por um jovem alto, magro, de cor branca, cabelos curtos e bem vestidos que nos parou e ordenou: “Não se movimentem. É um assalto. m os relógios. Rápido. Rápido. Rápido. Não estudou brincando”! E, para nos assegurar de que não estava verdadeiramente brincando, “apontou-nos uma arma com o dedo no gatilho”.

 Nervosos, não tínhamos para quem apelar (não havia um único policial, apesar da Guarita) e, muito menos, o que fazer, a não ser nos submeter a sua ordem de alma bandida – tirar o relógio do pulso e entregá-lo o mais rápido possível. Afinal, nessa hora, qualquer movimento que seja compreendido pelo bandido como esboço de reação, pode significar a própria morte, ficar inválido sobre uma cama ou na dependência de uma cadeira de rodas para sempre. Os exemplos são abundantes no Brasil. Não necessito citá-los. Os dados estatísticos falam pó si mesmo. Somos uma das nações mais violentas do mundo.

Inconformados e, ainda, trêmulos e nervosos com o ocorrido, voltamos para o escritório possuídos por uma sensação de completa impotência e de insegurança – “estamos a mercê dos bandidos”. E, eles, não são apenas os de colarinho branco! Eles podem estar vestidos, inclusive, com roupas de grife.

Os sentimentos de impotência, insegurança, invasão e violação aos direitos individuais, não são incomuns na população e no seio da sociedade. Muito pelo contrário. Eles se propagam e se disseminam no imaginário coletivo e na experiência dos brasileiros que vivem nos grandes centros urbanos e, até mesmo, nas pequenas cidades.

 

Refletindo sobre esse episódio fui levado a pensar: Quem foi o nosso anjo da guarda? Quem foi o anjo que nos livrou de um mal maior? Quem foi o anjo que nos deu discernimento, em momento tão crítico, para manter a cabeça fria e não esboçar qualquer tipo de reação?

Aí, lembrei-me, de dois eventos particulares da minha vida. O primeiro, meus estudos sobre “Angeologia” na faculdade de Teologia nos Estados Unidos (1968-1971). E, o segundo, uma conversa mantida com conhecida jornalista da Rede Globo de Televisão, após gravar uma entrevista no escritório da Gutemberg Consultores sobre o mercado de trabalho perguntou-me sobre “que fé religiosa eu professava”.

Mesmo intrigado com sua indagação, comecei a discorrer sobre minha formação teológica calvinista. Nesse instante, ela me perguntou: “você tem uma Bíblia em sua biblioteca?” Ao que respondi: tenho várias, inclusive, em hebraico (Velho Testamento) e em grego (Novo Testamento).

Ela, então, me indagou mais uma vez: “você conhece o livro dos Salmos”? A cuja inquirição, respondi: conheço extremamente bem e fiz inúmeros exercícios exegéticos sobre ele. Que Salmos você gostaria que eu lesse?”Ao que ela me respondeu: “Leia o capítulo 91 – Ele trata da segurança daquele que se refugia em Deus”. E, acrescentou, as suas palavras: “Foi a leitura deste capítulo que me deu forças para viver quando me divorciei e perdi meu irmão.”

Então, comecei a ler em voz alta para ela e seus auxiliares: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. Direi ao Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei. Porque ele te livrará do laço do passarinheiro. Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo de suas asas estarás seguro. Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda. Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.”

 Sim, é verdade, as Sagradas Escrituras falam sobre a existência dos anjos – bons e maus – e eles são descritos como “seres espirituais, í.e., “immaterial and incorporeal beings”, (“substantiae spirituales, omnis corporeae molis experts”).

Sua relação com o espaço é descrito como “illocalitas” e que eles são “in their intelectual faculties and in the extent of their knowledge they are far superior to man. Their power also is very great, and extends over mind and matter. They have the power to communicate one with another and with other minds, and to produce effects in the natural world”, segundo o teólogo norte-americano e ex-Principal do Princeton Theological Seminary, Charles Hodge, 1797-1878. (“Systematic Theology”, Volume I, pág. 637-648)

 Entretanto, a despeito do poder e superioridade que têm sobre os homens, eles não podem criar, eles não podem mudar as substâncias, eles não podem alterar as leis da natureza, eles não podem operar milagres, eles não podem operar sem um propósito, eles não podem decifrar os motivos do coração, visto que estas são prerrogativas de Deus.

Os anjos executam apenas a vontade de Deus no mundo natural e agem na mente dos homens quando dirigidos por Ele. Assim podemos dizer: Os anjos bons influenciam os homens para o bem e os anjos maus os influenciam para o mau.

Sim, todos nós já ouvimos ou declaramos em determinadas circunstâncias da vida, a expressão: “O nosso anjo da guarda nos protegeu disso ou daquilo”; “O nosso anjo da guarda esteve conosco naquele momento”; “O nosso anjo da guarda nos iluminou naquele instante”; “Deus enviou o seu anjo da guarda para nos livrar de malefício muito maior”. E nos referindo aos maus, dizemos: “ele deve estar com o demônio no corpo”.

 Um exemplo histórico são as palavras de Nicolai Ivanovich, Bukharin (1888-1938), membro da facção bolchevista, sobre Josef Stalin (1878-1953), um dos chefes do império soviético: “(…) não, não, Feldor Ilyich, trata-se de um pequeno e diabólico homem, não um homem, um demônio”.  

 Meu caro leitor, seja qual for a nossa situação, todos nós necessitamos de um anjo da guarda ao longo de nossa trajetória profissional – um guia, um mentor, um professor, um chefe excepcional, um conselheiro, um amigo verdadeiro – que nos oriente, nos instrua, nos aconselhe, nos desenvolva, nos promova e nos enriqueça em todos os aspectos da vida. Sem ele (ou eles), nossa carreira profissional sofrerá inúmeros reveses. Gosto muito das palavras de Josué, filho de Perahiá, “Arranja um mestre, adquire um amigo.”

Rabbi Moshe Bem Maimon (1135-1204), uma das mais célebres figuras do povo judeu ao comentar o conselho acima, escreveu:

  • “Arranja um mestre”.

Isto quer dizer que mesmo se essa pessoa não for merecedora de ser o seu professor, você deverá considerá-la como seu professor, até que realmente pareça ser seu professor. Assim você adquire sabedoria; porque o que o homem aprende por si só nunca se iguala ao que ele aprende de uma outra pessoa”.

  • “Adquire um mestre”

A idéia aqui é que o homem deve adquirir a devoção de alguém que aperfeiçoará seus atos e afazeres. Se alguém não achar tal pessoa, ele tem de fazer um esforço de todo o coração, mesmo que tenha de atrair devoção para torná-lo um bom amigo; ele deverá agradá-lo continuamente até que sua devoção esteja assegurada”.

E, em outro trecho, diz que: Bem Zoma dizia: “A quem se deve chamar de sábio? Àquele que aprende com todos os homens, conforme se diz: de todos os meus mestres recebi ensinamentos e os seus testemunhos são a minha meditação”.

Sim, nossos anjos da guarda são forças poderosas e importantes porque eles nos influenciam de maneira poderosa e eficaz. Portanto, o ponto mais importante a ser lembrado por todos nós é que ninguém faz nada sozinho. Todos os grandes homens sobre cujas vidas estudei e me debrucei tiveram o cuidado de, muito cedo, em sua vida e carreira procurarem a companhia e os conselhos de seus anjos da guarda. Portanto, aqui convém citar as sábias palavras de Maimônides, “Seja a tua casa um lugar de reunião de sábios; persiga a poeira dos seus pés, pega as suas palavras com avidez”. E, muitos séculos antes dele, a recomendação do sábio e rei Israel, Salomão (700 a.C.): “Quão melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro”; “A língua dos sábios adorna o conhecimento”; “Onde não há conselho fracassam os projetos, mas com muitos conselheiros há bom êxito”; “O homem se alegra em dar resposta adequada, e a palavra, a seu tempo, quão boa é”. (Provérbios 16.16; 15.2, 22 e 23).

Ao longo de minha carreira, quer como estudante, executivo ou consultor empresarial, eu sempre fui influenciado, ensinado e protegido pelos meus anjos da guarda: doutores Charles Findley Matthews, William Branda, Virginia Lamona Martin, Frona Mattox, Augusto Carlos Pinheiro de Viveiros, Grace Stull (professores no Colégio); doutores Allan McCray, Gary Cohen e Robert Vannoy (professores na faculdade de teologia nos EUA); Francisco Solano Portela Neto (amigo há mais de quarenta anos), atual diretor executivo da Universidade Mackenzie; Frederic Orr e Ronald Mezner (missionários protestantes); Douglas Purvance, Paul K. Kastel e Roberto Cintra Leite (ex-executivos da Booz-Allen International); jornalistas Maria Tereza Gomes (diretora da TV Ideal) e Mauro Silveira (jornalista especializado em carreia e clima organizacional), entre centenas de outros anjos da guarda.     

Meu caro leitor, abra as portas de sua vida e carreira para que os anjos da guarda – “os anjos do bem” estejam sempre de prontidão para intervir em sua defesa e favor, qualquer que seja a circunstância e momento.  Asseguro-lhe, por estudo, experiência e observação, que eles fazem uma tremenda diferença. Como escreveu, Stephen H. Baum, “Os anjos da guarda são influências importantes que oferecem exemplos positivos de comportamento ou de estilo administrativo; eles podem lhe dar a oportunidade de crescer no emprego; eles podem intervir em um momento crítico; eles podem ajudá-lo a enxergar no meio do nevoeiro e até mesmo iniciar uma correção no rumo de sua carreira. Seus anjos serão homens e mulheres mais velhos, mais sábios, mais experientes que aparecerão em sua vida pessoal e profissional.”

 Caro leitor, por mais cartesiano e racionalista que você seja não despreze aqueles seres “Immaterial and Incorporeal” – que o acompanham sem que você possa vê-los, tocá-los ou ouví-los. Eles existem e são instrumentos de Deus para o seu bem e proteção.  Lembre-se da experiência vivida pelo general de três estrelas, ex-chefe da Administração Política do Exército e, a partir de 1985, diretor do Instituto de História Militar da União Soviética, doutor em Filosofia Dmitri Antonovich Volkogonov, que depois de servir a cinco chefes do império soviético, declarou que “ele foi batizado no cristianismo, batismo este, de onde retirou muito da força espiritual que demonstrou nos derradeiros anos de vida”. Nas palavras do apóstolo maior do Cristianismo, Paulo, também conhecido como Saulo de Tarso, “Tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis”.

 

 

       

 

 

 

 

 

 

 

3 thoughts on “OS ANJOS E O EXECUTIVO”

  1. Gutemberg,

    Excelente Artigo, digno de parabéns.
    Você é um mestre que contagia outros mestres e ainda aqueles que estão no caminho.
    Fico feliz poder partilhar com você algo tão bom para o desenvolvimento do ser humano.
    Obrigado.

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