O dilema da diferenciação: Colaboração ou Competição?

Por Denize Maria das Graças Lara Kallás

Psicóloga e Especialista em Processos de Grupo

Diretora da Gutemberg Consultores

“Não existe esta coisa de homem por si mesmo. Somos formados por milhares de outros. Cada pessoa que alguma vez tenha feito um gesto bom por nós, ou dito uma palavra de encorajamento para nós, entrou na formação do nosso caráter e nossos pensamentos, tanto quanto do nosso sucesso.”

(George Matthew Adams)

1878-1962 – Fundador da George Matthew Adams Newspaper Service

 

O gosto pela disputa faz parte da natureza humana e ela é valorizada no ambiente empresarial. O mundo dos negócios tem suas próprias leis e artifícios. Nele não dá para ser amador. Afinal, ambos, indivíduos e empresas, sobrevivem, crescem e se fortalecem na competição.

Nos últimos anos, muito se tem falado sobre a necessidade da utilização dos recursos e práticas do esporte, dos princípios emprestados das religiões e tantas outras abordagens com o propósito de inspirar métodos de gerenciamento e eficácia no trabalho. Todas elas têm seu valor. Muito se enaltece a colaboração, porém pouco se compreende sobre a natureza da competição sadia e benéfica. Não raro, ela é associada ao estresse e a “guerra de talentos” com conotação negativa.

As escolas, em especial a de administração sinalizam sistematicamente para os benefícios do trabalho em equipe – sistema que há muito tem se mostrado efetivo, não há como negar. Todavia, o que se observa é que a maioria dos gestores não desenvolveu um entendimento mais crítico a respeito da natureza humana e da sua necessidade de competição. Denotam conhecer pouco sobre a formação de grupos de trabalho e seus sistemas de interdependência. Desconsideram também os fatores culturais que interferem nas políticas de desempenho. Seja o desempenho individual (encarreiramento) ou de negócios (a empresa e o mercado). Haja vista que as empresas contratam e descontratam sistematicamente os seus “colaboradores” apontando assim para uma crise de desempenho generalizada. Muitas vezes, parte da crise é camuflada por uma cultura que promove erroneamente o conceito de colaboração como mero mecanismo de fazer em conjunto e exclui dela o fator de competição. É lógico que o que é necessário fazer em grupo é preciso fazer em conjunto. Mas o fundamental é fazer o melhor e dar o máximo do seu desempenho individual. É necessário compreender em profundidade que cooperação e competição não são antagônicos.

A cultura do mantra da cooperação desconsidera que os dois mecanismos – competição e colaboração são intrínsecos. Essa miopia não só abafa o crescimento pessoal e individual como também promove a isenção ou fuga da responsabilidade. Se tudo é atribuído às equipes onde fica a responsabilidade individual, o esforço próprio e o mérito pessoal? Não é essa abordagem uma espécie de inteligência igualitária?

Os talentos individuais quando muito distintos dos demais membros do grupo tendem a causar inveja e insegurança. Assim nasce o esforço para sufocar o crescimento e a superioridade daquele que é distinto gerando inevitavelmente a competição – que se bem gerenciada é fator para lá de positivo. Mas a maioria das pessoas não querem lidar com o conflito. Nem os integrantes da equipe e, menos ainda, os gestores. Se o incômodo prevalece e somado a ele a falta do gerenciamento, a pessoa de desempenho superior será facilmente tragada pela mediocridade em prol da conformidade do grupo. E, muitas vezes, será julgada como “desajustada” ou “problemática” por seu gerente.

Atualmente, no ambiente organizacional e no mundo dos negócios, exercer seus talentos e se diferenciar pela criatividade, postura e auto-direção, sem deixar-se sufocar e sucumbir pelo grupo é um dos desafios mais importantes para o executivo. Aquele que tem talento e forte senso de disciplina e comprometimento se deixar levar pela falsa cultura da colaboração encontrará um caminho restrito ao seu crescimento, inúmeras frustrações que resultarão em baixo discernimento.

A empresa, apesar do discurso diferente, e por meio de seus dirigentes inseguros iguala a todos, padroniza recompensas e institui por meio de políticas de cargo e avaliação de desempenho, a “cultura da justiça” – ou da injustiça como é comumente observado. No entanto a maioria dos gerentes e diretores continuam queixando-se da baixa performance e da desmotivação de seus “colaboradores”. Não fazem a menor idéia de como “incentivá-los”. Criam patos gordos, mansos e incapazes de voar diz Gutemberg Macedo desde a década de 80. O trabalho é primeiramente um compromisso individual. Espaço e liberdade para exercê-lo é condição fundamental. Não há desenvolvimento técnico, intelectual ou ético que não dependam deles. Mas a real disposição e o verdadeiro comprometimento nasce da própria pessoa – é no íntimo que se manifesta a auto motivação. E a auto-motivação está além da necessidade de pertencimento a um grupo. Portanto, está além da cooperação. Ela se manifesta como um forte desejo de superação – de si mesmo e dos outros. É a necessidade de competir pura e simplesmente. E a falsa cultura da colaboração destrói aquilo que individualmente deve se transformar em incentivo e diferenciação – ou seja, identidade pessoal.

Se aquele que faz melhor, com maior propriedade ou agrega valor sobre qualquer um dos aspectos do negócio – conhecimento, esforço pessoal, criatividade, conduta e direcionamento,  terá o seu crédito repartido arbitrariamente? E ainda assim, por tantas outras vezes terá que carregar os “contra-pesos”? Talvez sim. Mas não é isso a institucionalização da injustiça e da “baixa competição” ou o coroamento da mediocridade?

O sistema de justiça é compreendido pelos valores pessoal e social. O auto merecimento diz respeito aquilo que você estabelece como valor para si mesmo. O valor social é o reconhecimento do outro para com você. Ambos definem a nossa importância no mundo. Ambos têm significância na nossa identidade, portanto são essenciais. Todos interagimos e fazermos parte de grupos e parte de interesses. O valor de participação no trabalho se refere tanto a cooperação como também a competição. Eles não estão isolados, não são antítese e devem ser praticados. Associados, eles possibilitam a autoconfiança.

Ser competitivo não significa destruir o espírito de colaboração. Ser colaborativo não significa destruir a competitividade. É importante que se procure otimizar essas duas condições. Afinal, é desse equilíbrio que nascerá a sinergia que possibilitará a performance superior tanto para o indivíduo como para o grupo.

Enquanto as empresas pregarem o trabalho desassociado da diferenciação, ela manterá o conflito entre satisfação, recursos humanos e produção porque ela não alcançará os seus próprios objetivos sem antes dar o espaço e a liberdade para aqueles que dela participam. Balancear competição e confiança é fundamental. Pois quando uma acelera a outra retrai. O mesmo ocorre com a carreira. A excessiva competição pode alienar a pessoa e matá-la simplesmente. Já a baixa competição impede o crescimento e a torna super dependente, insegura e frustrada.

Portanto, a competição e a colaboração coexistem em todo o perfil humano e empresarial. Na sua essência, elas não possuem a conotação de boas ou más. O que as tornam positivas é a sua boa percepção e administração. A sua carreira será bem sucedida se você assumir para si mesmo o seu gerenciamento. E as empresas só se tornarão mais saudáveis e competitivas quando os interesses e esforços, pessoais e organizacionais, estiverem em melhor sintonia.

Busque a excelência em tudo que depende de você: conhecimento, valores que norteiam a sua conduta e as metas que deseja alcançar etc. A sua capacidade de cooperar vem, primeiramente, da sua capacidade de empreender e de crescer. Assim, você terá o que oferecer, independentemente da cultura do ambiente. Para tanto tenha sempre em mente:

  • Sua identidade de trabalho é seu recurso valioso e está muito além de seu cargo e status.

 

  • Avalie seus talentos e os valores que os sustentam. Entenda com profundidade suas aspirações e confronte-as com a sua realidade – tenha clareza, quanto o seu nível de comprometimento e motivação. Verifique se eles estão de acordo com as exigências do ambiente. Saiba também o grau de sacrifício (aquilo você tem de abrir mão) para conciliar interesses.

 

  • Balancear a competição e a colaboração é aceitar os conflitos e se reposicionar toda vez que necessário. Avalie com honestidade o seu grau de egoísmo e de idiossincrasia para saber lidar com eles.

 

  • Dê duro para antes de tudo superar a si mesmo. Trabalhe mais que o time. Busque competir com aqueles que estão acima de você. Referencie-se nos melhores tal qual fazem os atletas.

 

  • Não se desvie de seu foco em detrimento de batalhas grupais e evite ajudar aqueles que não querem aprender. Na região onde nasci há um ditado interessante: “lavar cabeça de burro é desperdiçar água, sabão e tempo”.

 

  • Esteja atento às necessidade dos outros, dê a sua contribuição se necessária, mas evite realizar as tarefas que são deles. Ninguém tem obrigação de ajudar a quem não ajuda a si mesmo.

 

  • Procure manter-se independente. Não se perca em detalhes, processos e esclarecimentos. O perfeccionismo tolhe a aprendizagem e impossibilita a velocidade.

 

  • Guie por suas próprias referências mas não se esqueça de observar as expectativas que os outros tem de você.

 

  • Se você não gosta do calor da competição é melhor que reveja seus conceitos. Ela é presente e tende a se acentuar cada vez mais. O mundo não dá atenção aqueles que não agregam valor à sociedade.

 

 

 

 

 

 

2 thoughts on “O dilema da diferenciação: Colaboração ou Competição?”

  1. Excelente artigo Denize!
    Um boa oportunidade para uma relevante reflexão e ao mesmo tempo nos chama para a responsabilidade de controlarmos o nosso próprio destino.
    Um abraço!

  2. Excelente tema! Esclarece muitas dúvidas e até dilemas do nosso dia a dia!
    Vou repassar aos colegas que estão precisando assumir pra si o comando de suas carreiras!

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